Revista LOJAS Papelaria - Edição 267

ARTIGO Por Rubens F. Passos* O que você vai ser quando crescer? A clássica pergunta sempre feita às crian- ças e adolescentes - “O que você vai ser quando crescer?” - ganhou um sentido mais amplo e literal no contexto das fulminantes transformações tecnológicas e na estrutura do trabalho verificadas neste século. À dúvida entre as atividades já existentes - advogado, médico, engenhei- ro, administrador, economista, professor, jornalista... ? - soma-se a incógnita relativa a profissões que sequer foram criadas. Pode parecer ficção sociológica futurista, mas não é. Um estudo do Fórum Eco- nômico Mundial, intitulado  Futuro do Trabalho , ressalta que 65% das crianças que estão começando o Ensino Funda- mental terão atividades profissionais que ainda não existem. As mudanças serão estruturais, estima pesquisa da consultoria McKinsey, salientando que para cada pos- to de trabalho eliminado pela tecnologia, 2,4 novos serão criados, principalmente em startups.  Nesse novo cenário, o grande desafio para garantir a emprega- bilidade humana na quarta revolução industrial encontra-se na educação. Esse é um problema sério para países como o Brasil, nos quais o setor tem sido negligenciado durante muitos anos e sequer consegue cumprir com qualidade mínima a missão tradicional de alfabetizar, ensinar as quatro operações e os conhecimentos básicos.  Além da precariedade escolar, o nosso modelo de educação, a des- peito de uma ou outra reforma pontual, foi criado há muito tempo e está longe de atender às demandas relativas à formação das presentes e futuras gerações. Assim, o Brasil, para se converter de fato em nação competitiva, de renda alta e mais desenvolvida, terá de fazer uma dupla lição de casa na área da educação: recuperar o tempo perdido na estruturação de um sistema público de ensino eficaz e de excelência e, ao mesmo tempo, prover os novos saberes que se exigem cada vez mais. E quais são esses conhecimentos e habilidades já presentes no currículo de escolas de alguns países desenvolvidos? Capacidade de solucionar problemas e enfrentar situações críticas; criatividade; inteligência emocional; familiaridade com as tecnologias da infor- mação; desenvoltura na comunicação e nas formas de expressão; facilidade de aprender rapidamente novos conceitos; e formação multidisciplinar. Infelizmente, estamos atrasados no processo de inserção do ensino na nova era do trabalho. Num momento em que o mundo discute e implementa esses avanços, ainda estamos patinando na aprova- ção do novo currículo nacional mínimo, continuamos pagando mal os professores, assistindo a uma interminável sequência de fraudes e vícios nas licitações para compra de materiais escolares para o sistema público e taxando com impostos altíssimos os cadernos, lápis, canetas, réguas e outros produtos essenciais ao aprendizado de nossas crianças. Diante desse desafio, que se torna ainda mais complexo no atual cenário nacional de instabilidade política e crise econômica, é preciso reformular e direcionar a clássica pergunta sobre o futuro às autoridades federais, estaduais e municipais da área da educa- ção: o que vocês querem que o Brasil seja quando nossas crianças crescerem? *Rubens F. Passos, economista pela FAAP e MBA pela Duke University, é presidente da Associação Brasileira dos Fabri- cantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE) e presidente do conselho da Enactus Brasil.

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