Revista LOJAS Papelaria - Edição 232 - page 43

ENVELOPESDEPAPEL
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Do “sobrescrito» ao «envelope”
Do francês «enveloppe» (e o seu
empréstimo ao inglês «envelope»)
surge como «envoltório» ou coberta,
oque é hoje um «envelope», Em
portuguêsmanteve-se até hoje o
termo sobrescritopara textoque
identificava aodestinatário sobre o
própriopapel fechadoda carta.
Emportuguês temmantido, até
hoje, o termo « sobrescrito « para se
referir ao «envelope»,mas ultima-
mente a linguagemprofissional
prefere o importado «envelope».
Oprimeiro envelope, como
Adão, foi feitodobarro.
Mais alémdas palavras, que também
fazemhistória, se quer retroceder 4
mil anos à história da «coberta» da
carta. Parece que omais antigo «en-
velope» doqual há testemunha foi
o revestimentode barro cozidodo
qual se serviam os babilônios pelo
ano 2000 a.C. para fazer invioláveis
asmensagens oficiais de «cartas» no
mesmomaterial.
Mas o envelope, tal comohoje o
conhecemos, é um utensíliomoder-
no, tem ascendentesmais próximos
e surge pela feliz coincidência de vá-
rios elementos: correios organizados,
substituição econômica doperga-
minhopelopapel e predomínioda
burguesia europeia. Este cruzamento
de elementos levounaturalmente ao
envelope.
Cartas sob envelope, uma
cortesia francesa.
Que a carta dobrada (folha) era
corrente na IdadeMedia europeia o
confirmamnumerosas testemunhas
gráficas;mas é preciso esperar por
testemunhos escritos até o século
XVII, para que a sociedade europeia
veja a conveniência de vestir a carta
nua: Antoine deCourtin, no seuNou-
veau traité de civilité qui se pratique en
France parmi les honnêtes gens (ano
1671) assinala que “o revestimento
(“enveloppe”) de papel sobre oqual
pôr amorada da carta é um sinal de
respeito ao superior a quem se escreve”.
Pode ser oprimeiro testemunho escrito
da palavra “enveloppe” de papel como
antecedente doque hoje é um enve-
lope. Sendo a corte da França então a
referência demoda para as classes di-
rigentes europeias, não é estranhoque
o “enveloppe” francês tenha cruzado o
canal daMancha. E que também o seu
nome o tenha acompanhado (“envelo-
pe”, envelope em inglês).
Envelope e selo, imperativoda
Ilustração.
É preciso imaginar a anarquia dos
correios com cartas em toda classe
de papéis, commoradas imprecisas,
populações semnomes nas ruas para
entender oparecer racional da Assem-
bleia Francesa (1792), que obrigou a
pôr amorada dodestinatáriopara que
um agente governativonão tivesse que
abrir opapel para conhecer a quem se
dirigia a carta.
Indomais além, a 26de fevereiro
de 1820, a AssembleiaConstituinte
francesa decidiu racionalizar o territó-
rio emdepartamentos e dar nome às
ruas de Paris e rotulá-las.Mas até 1830
não começou a distribuir-se o correio
domiciliário.
Em1837, RowlandHill publicou em
Londres uma brochura titulada Post
Office Reform, its importance and
practicability, onde advogava pela
introduçãode uma cobertura uniforme
para o franqueio. Assim apareceu o selo
mais famosoda história: a rainha Vitória
retratada com18 anos, que esteve
vigente no ReinoUnidodurante os 60
anos que durou o seu reinado.
Oprimeiro envelope pré-
franqueado
Por essa época, a recuperaçãodo
correio em funçãodonúmero
de papéis foi uma barreiramen-
tal para a invençãodo envelope
como cobertura da carta. E foi o
comprovativode que o tráfegoda
correspondência se encareciamais
pela anarquia dos papéis que por
seunúmero, oque levou à ideia de
que uma cobertura uniforme com
espaçopara a direção e franqueio
facilitava o serviçode correios.
Assim se chegouna Inglaterra ao
“envelopeMulready”.W.Mulready,
membroda Royal Academy, ganhou
em 1840 um concurso oficial de
ideias por uma cobertura standard
de franqueiopago. Fracassoupor
sua estética cortesã,mas abriu um
caminhode liberdade que tem
perdurado até hoje. Em 1848, na
França, decidiu-se por decreto a
obrigaçãode colar selos nos enve-
lopes no ângulo superior direitodos
objetos franqueados.
Selos obrigados,mas envelopes
livres.
Entretanto, nãopor acaso, em
1843, um tal Pierson, em Fulton
Street, deNova Iorque (EUA),
inventou como cortar opapel com
um cortante em açopara, uma vez
dobrado e gomado, produzir en-
velopes de forma industrial, antes
impensável com procedimentos
artesanais. Todo esse século XIX viu
surgir na Europa e Estados Unidos
engenhos criadores de procedi-
mentosmecânicos de fabricação
para passar domanual a processos
mecanizados, aplicando-se so-
luções da indústria gráfica a um
produtomais complexo que um
simples papel.
Curiosidades
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